Foi ontem, dia 18 de novembro, que se deram por encerradas as atividades relacionadas com a exposição de finalistas de Design de Comunicação. A última atividade relacionada com a exposição foram as conversas, com ex-alunos da FBAUL, que tinham como tema principal o Design de Intervenção.
Nesta sessão de conversas tivemos a oportunidade de ouvir os oradores Diogo Dória e Ana Santos que nos trouxeram o projeto “#65”, Inês Fortunato que partilhou connosco o projeto “Eles fizeram o que não sabiam ser impossível” e, em último lugar, Susana António que nos veio falar do seu projeto “A avó veio trabalhar”.
Na primeira conversa, Diogo Dória e Ana Santos, ex-alunos da FBAUL e designers de comunicação, falaram-nos sobre o seu projeto “#65”. Este projeto, já realizado em 2013, foi um projeto de design social que tinha o intuito de intervir naquilo que era um dos problemas da altura: a demolição de bairros de construção ilegal. O bairro a quem se referia o projeto dos designers, era o bairro de Santa Filomena na Amadora. A Câmara Municipal decidiu iniciar as demolições no bairro com o objetivo de realojar a sua população, essa que se contestava pois teria de abandonar as suas casas. Muitas famílias não pertenciam ao protocolo de realojamento o que significava que iram ter de viver na rua. O trabalho destes designers, passou por um processo de reconhecimento das pessoas do bairro, vivendo de forma solidária o drama, ouvindo estas histórias e fotografando estas pessoas. Estas imagens, eram o reflexo de cada casa demolida, então, foram ampliadas a preto e branco e colocadas numa dimensão enorme, nas fachadas das casas que a Câmara Municipal da Amadora ainda pretendia demolir.
Apesar do projeto ter tido bastante impacto, até por parte dos media, o bairro de Santa Filomena foi na mesma demolido, e estas famílias realojadas noutras casas, noutros sítios. Embora tenha acontecido, Diogo e Ana, fizeram o que estava ao seu alcance.
Chegou a vez de Inês Fortunato, também ex-aluna da FBAUL e designer de comunicação, falar sobre o seu projeto de final de curso: “Eles fizeram o que não sabiam ser impossível”.
O projeto tinha como objetivo a criação de uma rede local de divulgação e dinamização de recursos comunitários em Fernão Ferro, no Seixal. Esta é uma freguesia suburbana rural de génese ilegal. A maioria dos seus habitantes eram de origem rural e queriam viver nos arredores de Lisboa. Esta afluência acabou por gerar uma malha de terrenos retangulares completamente fechada sem espaço para infraestruturas de serviços públicos. Apesar disso, esta é uma localidade que sempre se envolveu em muitos movimentos associativos com o intuito de tentar legalizar aqueles terrenos e também desse modo obterem melhores condições e saneamento. Esses movimentos deram origem a organizações, à criação da Freguesia e a outras instituições de serviço público. Uma das associações é a Unidade de Saúde Familiar, que organiza uma série de projetos de voluntariado. Inês Fortunado interveio abrindo portas para o que poderia ser a solução destes problemas que pareciam persistir mesmo com a existência destes projetos: era preciso sensibilizar os moradores para a situação dos vizinhos e promover a entreajuda.
A designer, sugeriu a elaboração de uma plataforma que interligasse umas instituições às outras e a grupos com quem trabalhavam, que redirecionasse recursos de uns projetos para outros. E assim se sucedeu a criação de uma plataforma online associada ao site da Junta de Freguesia que: divulga projetos, divulga recursos comunitários e divulga e recebe as inscrições para atividades. Também a criação de panfletos com diversa informação relativa a subsídios e outros apoios disponibilizados pelas instituições da rede e, para além disso, a coordenação e gestão dos voluntários bem como a sua organização.
Após a aprovação deste projeto pela Rede Social do Conselho do Seixal e por outras identidades, Inês Fortunado cumpriu, no fundo, a sua missão, sendo convidada a apresentar este projeto nos mais variados sítios, transmitindo-nos toda a sua experiência num registo muito informal mas adequado.
Para finalizar, ficámos a conhecer a Susana António, Designer de Equipamento, também formada na FBAUL. Susana e o seu colega psicólogo Ângelo Compota, estão à frente de uma série de projetos mas nesta sexta-feira veio falar mais um pouco daquilo que é o “A Avó veio trabalhar”.
Susana, sempre desenvolveu um carinho pelo design social e em especial com a área do envelhecimento. Graças à força que este exercia na vida da designer, nasceu a Fermenta (associação que usa o design como ferramenta de inovação social) que acredita no design enquanto ferramenta de transformação e capacitação. “A Avó veio trabalhar” é um dos projetos relacionados com a Fermenta. Neste as avós produzem coleções de moda, estimulando o envelhecimento ativo, através de atividades e ofícios que eles próprios tinham enquanto jovens. Estes avós desenvolvem peças/trabalhos desde o bordado tradicional ao tricot, ao tear, à serigrafia e até ao crochet e destas técnicas já nasceram coleções de luvas, tapetes e até almofadas. Desta forma, Susana e Ângelo destroem estigmas trazendo-os a uma vida ativa novamente. Design também é isto.
“A Avó veio trabalhar” já esteve presente no festival Bons Sons em Cem Soldos, já foi reconhecida como Melhor Ideia do Ano pela Time Out em 2015, faz atividades de workshop e expõe trabalhos não só nas lojas mas também em museus.
Esta sessão de conversas terminou com uma pergunta: “Então e o avô?” Susana disse que esse é o próximo desafio: alargar o espaço para o avô vir trabalhar também.