File#2: Design de Intervenção – Conversas com ex-alunos

14993491_588233744697148_4594868312383779795_n.png

Foi ontem, dia 18 de novembro, que se deram por encerradas as atividades relacionadas com a exposição de finalistas de Design de Comunicação. A última atividade relacionada com a exposição foram as conversas, com ex-alunos da FBAUL, que tinham como tema principal o Design de Intervenção.

Nesta sessão de conversas tivemos a oportunidade de ouvir os oradores Diogo Dória e Ana Santos que nos trouxeram o projeto “#65”, Inês Fortunato que partilhou connosco o projeto “Eles fizeram o que não sabiam ser impossível” e, em último lugar, Susana António que nos veio falar do seu projeto “A avó veio trabalhar”.

Na primeira conversa, Diogo Dória e Ana Santos, ex-alunos da FBAUL e designers de comunicação, falaram-nos sobre o seu projeto “#65”. Este projeto, já realizado em 2013, foi um projeto de design social que tinha o intuito de intervir naquilo que era um dos problemas da altura: a demolição de bairros de construção ilegal. O bairro a quem se referia o projeto dos designers, era o bairro de Santa Filomena na Amadora. A Câmara Municipal decidiu iniciar as demolições no bairro com o objetivo de realojar a sua população, essa que se contestava pois teria de abandonar as suas casas. Muitas famílias não pertenciam ao protocolo de realojamento o que significava que iram ter de viver na rua. O trabalho destes designers, passou por um processo de reconhecimento das pessoas do bairro, vivendo de forma solidária o drama, ouvindo estas histórias e fotografando estas pessoas. Estas imagens, eram o reflexo de cada casa demolida, então, foram ampliadas a preto e branco e colocadas numa dimensão enorme, nas fachadas das casas que a Câmara Municipal da Amadora ainda pretendia demolir.

Apesar do projeto ter tido bastante impacto, até por parte dos media, o bairro de Santa Filomena foi na mesma demolido, e estas famílias realojadas noutras casas, noutros sítios. Embora tenha acontecido, Diogo e Ana, fizeram o que estava ao seu alcance.

655.png

Chegou a vez de Inês Fortunato, também ex-aluna da FBAUL e designer de comunicação, falar sobre o seu projeto de final de curso: “Eles fizeram o que não sabiam ser impossível”.

O projeto tinha como objetivo a criação de uma rede local de divulgação e dinamização de recursos comunitários em Fernão Ferro, no Seixal. Esta é uma freguesia suburbana rural de génese ilegal. A maioria dos seus habitantes eram de origem rural e queriam viver nos arredores de Lisboa. Esta afluência acabou por gerar uma malha de terrenos retangulares completamente fechada sem espaço para infraestruturas de serviços públicos. Apesar disso, esta é uma localidade que sempre se envolveu em muitos movimentos associativos com o intuito de tentar legalizar aqueles terrenos e também desse modo obterem melhores condições e saneamento. Esses movimentos deram origem a organizações, à criação da Freguesia e a outras instituições de serviço público. Uma das associações é a Unidade de Saúde Familiar, que organiza uma série de projetos de voluntariado. Inês Fortunado interveio abrindo portas para o que poderia ser a solução destes problemas que pareciam persistir mesmo com a existência destes projetos: era preciso sensibilizar os moradores para a situação dos vizinhos e promover a entreajuda.

volun2-l-300x225

A designer, sugeriu a elaboração de uma plataforma que interligasse umas instituições às outras e a grupos com quem trabalhavam, que redirecionasse recursos de uns projetos para outros. E assim se sucedeu a criação de uma plataforma online associada ao site da Junta de Freguesia que: divulga projetos, divulga recursos comunitários e divulga e recebe as inscrições para atividades. Também a criação de panfletos com diversa informação relativa a subsídios e outros apoios disponibilizados pelas instituições da rede e, para além disso,  a coordenação e gestão dos voluntários bem como a sua organização.

Após a aprovação deste projeto pela Rede Social do Conselho do Seixal e por outras identidades, Inês Fortunado cumpriu, no fundo, a sua missão, sendo convidada a apresentar este projeto nos mais variados sítios, transmitindo-nos toda a sua experiência num registo muito informal mas adequado.

Para finalizar, ficámos a conhecer a Susana António, Designer de Equipamento, também formada na FBAUL. Susana e o seu colega psicólogo Ângelo Compota, estão à frente de uma série de projetos mas nesta sexta-feira veio falar mais um pouco daquilo que é o “A Avó veio trabalhar”.

sem nome.png

Susana, sempre desenvolveu um carinho pelo design social e em especial com a área do envelhecimento. Graças à força que este exercia na vida da designer, nasceu a Fermenta (associação que usa o design como ferramenta de inovação social) que acredita no design enquanto ferramenta de transformação e capacitação. “A Avó veio trabalhar” é um dos projetos relacionados com a Fermenta. Neste as avós produzem coleções de moda, estimulando o envelhecimento ativo, através de atividades e ofícios que eles próprios tinham enquanto jovens. Estes avós desenvolvem peças/trabalhos desde o bordado tradicional ao tricot, ao tear, à serigrafia e até ao crochet e destas técnicas já nasceram coleções de luvas, tapetes e até almofadas. Desta forma, Susana e Ângelo destroem estigmas trazendo-os a uma vida ativa novamente. Design também é isto.

imageskure3ghw

“A Avó veio trabalhar” já esteve presente no festival Bons Sons em Cem Soldos, já foi reconhecida como Melhor Ideia do Ano pela Time Out em 2015, faz atividades de workshop e expõe trabalhos não só nas lojas mas também em museus.

Esta sessão de conversas terminou com uma pergunta: “Então e o avô?” Susana disse que esse é o próximo desafio: alargar o espaço para o avô vir trabalhar também.